O fim da desoneração da folha de pagamento deve gerar 400 mil demissões no setor de call center nos próximos dois anos. A projeção é de Vivien Suruagy, presidente da Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática.
Segundo ela, as empresas do setor já estão organizando listas de corte de funcionários diante do aumento da carga tributária. "Isso é bem sério. Em breve estaremos comunicando as entidades laborais. Não tem empresa séria que consiga trabalhar na insegurança, porque a conta é clara. Se eu recebo um valor para gasto com remuneração e esse gasto com remuneração é composto de imposto mais salário, quando você aumenta a rubrica imposto, você tem que diminuir o gasto com o salário", aponta.
No fim do ano passado, o governo editou uma medida provisória que exclui o call center e outros sete setores do rol de beneficiados pela desoneração da folha de pagamento. O mecanismo permite que as empresas optem por pagar de 1% a 4,5% de seu faturamento ao governo em vez de terem que contribuir com 20% sobre a folha de salários para o INSS.
Empresas com elevado número de funcionários costumam optar pela tributação via faturamento, pois isso diminui o peso dos impostos sobre elas. Com a MP do governo, no entanto, os oito setores não terão mais essa alternativa.
Pelo regime da desoneração, as empresas de call center pagam uma alíquota de 4,5% sobre o faturamento, mas a partir de abril voltariam a ser tributadas sobre a folha.
O setor de call center, infraestrutura de telecomunicações e informática emprega, de acordo com a Feninfra, cerca de 2,5 milhões de pessoas. Com a reoneração, as 400 mil demissões devem recair mais sobre mulheres e jovens em primeiro emprego.
"Com a quebra de empresas, há uma previsão de demissão de aproximadamente 400 mil profissionais nos próximos dois anos. Em torno de 60% desse pessoal vão ser de mulheres e jovens em primeiro emprego. Infelizmente, vamos ter que liberar esse pessoal", lamenta.
A estimativa da entidade é que cerca de 240 mil mulheres e jovens devem perder a vaga no mercado formal de trabalho. Favorável à desoneração, o deputado federal Vitor Lippi (PSDB-SP) critica o fim do mecanismo que garante milhões de empregos no país. "Isso é muito ruim. Aumenta o custo da produção e acaba tendo impacto financeiro e econômico. Os encargos da folha de pagamento aqui são muito superiores ao resto do mundo. Isso já é um fator de falta de isonomia, faz com que o Brasil não consiga ter competitividade internacional", avalia.
O congressista é um dos parlamentares que defende a devolução da MP da reoneração ao governo por entender que a medida desrespeita decisão tomada pelo Congresso Nacional, em 2023.
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